Eu, Tituba: Bruxa Negra de Salem, de Maryse Condé
setembro 15, 2020Sobre o livro
"Dessa agressão eu nasci. Desse ato de agressão e desprezo."
"Desejo às gerações futuras que vivam tempos em que o Estado seja provedor e se preocupe com o bem-estar dos cidadãos."
"A pesquisadora de literatura Ana Maria M. Roeber ressalta que o texto de Miller pretende consagrar um homem, John Proctor, um dos condenados, como herói. Nesse sentido, a obra do teatrólogo americano segue uma tradição consagrada pela literatura e pelo teatro, a de alçar sempre a figura masculina à condição de herói-protagonista."
Em Eu, Tituba, a intenção é dar voz principalmente a uma personagem real e ignorada. E apesar de, ao longo do romance, Tituba se envolver com diversos homens, é a sua personalidade a que fala mais alto, no final das contas.
Maryse Condé nasceu em Guadalupe, um departamento ultramarino da República Francesa no Caribe, o que a torna próxima em localidade do possível local de nascimento de Tituba. E, o que a torna próxima do local de nascimento de Jean Rhys. Assim como Condé, Rhys se aventurou a escrever a história de uma personagem silenciada, mas ficcional. Publicado em 1966, Vasto Mar de Sargaços conta a história de Bertha, também nascida nas ilhas caribenhas e uma das personagens do livro Jane Eyre, de Charlotte Brontë. Bertha é tida como louca, e é um dos nomes mais lembrados quando pensamos no tropo "a louca do sótão" (escrevi um pouco sobre o tropo da louca do sótão e sobre Vasto Mar de Sargaços aqui).
Assim como Vasto Mar de Sargaços, Eu, Tituba busca um tipo de reparação histórica: dar voz a algumas mulheres não-brancas com as vidas devastadas por culpa de um sistema colonial e cruel, que destruiu famílias e várias histórias que não puderam ser contadas. Apesar da ficção, as histórias dessas mulheres poderiam ser as histórias de quaisquer mulher não-branca que viveu naquele período (sendo aqui bastante esperançosa, mas sabendo que histórias assim podem acontecer ainda hoje).
Não é o suficiente para que o mal causado seja reparado, mas é uma iniciativa: conhecer essas histórias, saber desses terrores.
Os dois livros são leituras interessantes, rápidas, emocionantes e, muitas vezes, terríveis. Duas personagens, ficcionais ou não, que deixaram um rastro de silêncio que tenta ser quebrado.
* Li Eu, Tituba, para o clube de leitura Litterari@, com membros de alunos da Universidade Federal de Uberlândia, para o encontro de setembro. Se tornou uma das melhores leituras do ano.
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