
Karyn Kusama é uma escritora e diretora estado-unidense, conhecida por The Invitation (2015), Jennifer's Body (2009) e Aeon Flux (2005).
Diferente da maioria das pessoas, que conheceram o trabalho de Karyn Kusama com Jennifer's Body (Garota Infernal) ou Aeon Flux, eu só fui conhecê-la depois de assistir XX (2017), a antologia de terror com segmentos dirigidos somente por mulheres.
Em XX, Kusama dirige o segmento "Her Only Living Son", o último do filme, que fala sobre a relação de uma mãe e seu filho, em que o pai do garoto é ausente. Isso poderia ser bastante comum, sabemos como o abandono paterno é algo que acontece em diversas famílias, mas neste caso em especial o pai do garoto é o próprio demônio.
Desde essa premissa até a forma como as coisas acontecem nesse segmento, conseguimos compreender um pouquinho da forma que Kusama trabalha: ela esconde, ela dá pistas, mas ela demora muito para escancarar o que ela está afirmando desde a primeira cena do filme. É interessante a forma que ela constrói a história, dando dicas, colocando conversas, as cenas. É um ótimo trabalho, considerado por muitos como o melhor segmento da antologia.

Minha segunda experiência com o trabalho de Kusama foi The Invitation (O Convite). Em The Invitation, conhecemos Will (Logan Marshall-Green), que vai até a casa de sua ex-esposa, de forma amigável, para um jantar. Will é um homem complicado, que não consegue superar a perda do filho de forma tão boa quanto a esposa, o que acaba fazendo com que ele seja amargurado, culpando sua ex-esposa de ter seguido em frente quando ele mesmo não conseguiu.
Durante todo o filme Will pensa que algo está errado, mas novamente não conseguimos compreender o que é. Há algo mesmo errado? Will está histérico? Will está enlouquecendo?
Um dos maiores triunfos desse filme é colocar Will como um cara neurótico, demorando para dizer se ele está correto de estar se sentindo incomodado naquela casa ou se tudo está normal e ele está somente com pensamentos absurdos. Will assume um papel que sempre é deixado para mulheres: ele é o paranoico, o histérico, aquele que é desacreditado. Se fosse dirigido por outra pessoa, um homem, talvez não tivessemos a profundidade de personagem que Will tem.

Assisti então seu trabalho, talvez, mais famoso: em Jennifer's Body, temos uma Megan Fox interpretando Jennifer, a rainha do baile americana, bastante maldosa com todos à sua volta, e sua melhor amiga, Amanda Seyfried, que vive Needy, uma moça bastante comum. Ambas são amigas desde crianças, e percebemos que aquela amizade é estranha. Jennifer parece aquele tipo de pessoa que arrasta seus amigos para o buraco, e caso eles não queiram ir com ela, ela os empurra. É uma relação bastante tóxica.
Jennifer acaba sendo vítima de um ritual satânico, e se torna uma succubus, matando garotos da cidadezinha onde vive. A relação entre ela e Needy sofre alguns abalos, pois Needy percebe algo estranho acontecendo. Diferente de outros trabalhos de Kusama, não temos tanto suspense sobre tudo que está acontecendo: sabemos desde o início quem está causando as mortes, sabemos mais ou menos o que houve, e conseguimos ver para onde as coisas estão indo, os rumos que a narrativa está tomando.
É um filme amado por alguns e odiado por muitos, e eu precisaria de um texto separado para discuti-lo, É complexo perceber e discutir as relações entre Needy e Jennifer, a necessidade, a forma como Needy trata essa relação e a forma que passa a tratar depois que percebe que tem algo errado com a "amiga". Mas, como filme adolescente/pré-adolescente, é um filme interessante, tem cenas ótimas, tem momentos muito bem dirigidos, e pode ter servido de um ótimo estudo para o trabalho da diretora.

Seu próximo filme se chama Destroyer (O Peso do Passado), e é um suspense policial, em que uma detetive policial que sofreu um trágico momento em seu passado, e anos depois volta a perseguir os responsáveis. A protagonista é interpretada por Nicole Kidman, que parece ter momentos memoráveis no filme. O filme tem estreia prevista para 19 de janeiro, e o trailer pode ser visto abaixo:
Karyn é uma diretora que merece um local importante dentro do gênero do terror, e é uma diretora que merece ter as atenções voltadas à ela, acompanhando seu trabalho. Ela tem um estilo interessante de mostrar sem entregar tudo de uma vez, criando um clima de tensão a cada cena, desenvolvendo seus personagens com cuidado, principalmente depois de 2010, com The Invitation e XX. Podemos aguardar ótimos filmes vindos dela ainda.

Eu amo Aeon Flux. Amo. Acho que sou uma das poucas pessoas no mundo, porque toda vez que eu falo sobre ele recebo olhares tortos. 😅
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