
A Última Travessia, de Mats Strandberg, traduzido por Fernanda Sarmatz Åkesson, é um livro lançado recentemente pela Editora Morro Branco.
Na história, o cruzeiro Baltic Charisma está fazendo mais uma de suas viagens. Sua rota é no mar Báltico, com destino à Finlândia. Porém, o que ninguém dentro do navio espera, é que criaturas sanguinárias também estão fazendo parte dessa tripulação, e o cruzeiro talvez tenha um grande problema no meio do Oceano, sem ninguém para ajudar.
A Sybylla, do Momentum Saga, escreveu uma crítica bastante completa sobre o livro, que pode ser lida AQUI, e eu concordo com ela. O livro é demorado, ele não engrena fácil e temos algumas dificuldades em acompanhar o que acontece no navio. São vários personagens, vários pontos de vista e pode tornar o desenvolvimento meio enrolado.
Mas eu queria me ater aos vampiros de Strandberg. O texto contem spoilers.
Uma coisa muito comum que tem acontecido, após o mito do vampiro ter sido trazido de volta por produções como Crepúsculo, é a negação desse mito. "Sim, nós somos vampiros, mas não morremos no Sol, esqueça a bobagem sobre a religião" e eu entendo. O mito do vampiro pode ser moldado e utilizado da forma como bem se entende, e isso não é um problema. Essas criaturas acabam sendo vampiros e acabou. É até engraçado a negação de se usar a palavra vampiro durante o texto do livro. Uma das únicas vezes em que isso é mencionado, é quando Lo, uma das crianças no navio, menciona a possibilidade. Ela é desacreditada naquele momento, mas todos compreendem que talvez ela esteja certa.
Mas é interessante, nesse caso, perceber pelo processo que o mito do vampiro, o vampiro moderno, o vampiro pós-Drácula tem passado. Mesmo que não seja utilizada a palavra vampiro, sabemos do que se trata: é uma criatura que se alimenta da força vital de outra criatura. Mesmo que essa força não seja o sangue, ainda sim essa criatura seria um vampiro.
Outra coisa que Mats Stradberg se utiliza muito bem: a personalidade de seus personagens, e isso foi algo que me chamou muita atenção. No início do livro temos dois vampiros à bordo do Baltic Charisma: Alex e sua mãe. Conforme as páginas passam, descobrimos que Alex estava doente e, por isso, para salva-lo, sua mãe procura os anciões vampiros para transforma-lo. Abre mão de toda a sua fortuna para que ele se torne um vampiro, dando início ao caos. Ela é alertada que ele é uma criança e que ele não entende como as coisas funcionam, e transforma-lo em vampiro tão novo seria um erro enorme.
Mas será que Alex não tem mesmo noção do que está fazendo? Algo que Stradberg mostra muito bem é como as crianças que passam por todo o inferno à bordo do Baltic Charisma conseguem compreender o que há de errado. Alex não deveria saber?
Temos então uma das primeiras aparições: Dan Appelgren, cantor de um antigo reality show de talentos. Dan se mostra um homem muito egoísta e mesquinho, um personagem completamente odiável, e é algo que não muda quando ele se transforma em vampiro. Não há mudanças entre o antigo personagem e aquele que "despertou".
Porém não são todos os vampiros que permanecem assim. Vários vampiros quando despertam, os recém-nascidos, não compreendem o que está acontecendo e mal conseguem falar. Rastejam, vão atrás de carnificina, não são como seus antigos eus. Mas Dan é alguém tão asqueroso, que queria tanto ser melhor que todos os outros, que permanece da mesma forma como era antes. E pior, pois agora percebe que tem poder em mãos. Ele e Alex se unem para transformar todos os presentes no cruzeiro em vampiros, até uma dominação mundial - algo não muito original, mas ainda sim faz sentido, estamos falando de uma criança e um artista megalomaníaco.
Outra transformação que merece destaque é a de Pia, uma das seguranças do cruzeiro. Ao se transformar, Pia não tem uma personalidade tão forte e absurda quanto a de Dan, mas ela tem uma lealdade enorme pelo que faz, sabe que precisa manter todos em segurança e não se esquece disso ao despertar como vampira. Pia é uma personagem cativante e carismática, com bom coração, e permanece assim mesmo depois que acorda como vampira, sendo uma grande heroína do livro.
É algo a se ter em mente ao se trabalhar com histórias sobre vampiros. A personalidade da criatura é tão ou mais importante do que se ela anda durante o dia ou se alimenta de sangue, e é algo que o Mats Stradberg acrescenta em sua obra e pode ser marcado como ponto positivo.
Livro cedido pela Editora Morro Branco

Não usar a palavra "vampiro" me fez lembrar The Walking Dead que não usa a palavra "zumbi", são sempre biters, walkers, e por aí vai.
ResponderExcluirentão, eu sinto até como se fosse algum tipo de receio, sabe? parece que a palavra vampiro e zumbi caiu tanto no "popular" que o pessoal (autores, diretores) não querem mais dar uma ideia errada sobre as criaturas deles.
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